
A Revolução dos Elfos
Thiago ouviu sons no andar de baixo. Torcendo baixinho, ele desceu as escadas do jeito mais silencioso que podia. Para sua surpresa, lá estava ele. Estava sem o casaco e a touca, devido ao calor de verão, mas era ele mesmo!
-Papai Noel? – Thiago perguntou baixinho.
O velhinho não respondeu. Ele não parecia muito bem. Tinha uma aparência cansada e um pouco desesperada.
-Eles querem direitos…
Thiago piscou, seu rosto em confusão…
-Os elfos… eles estão fazendo uma rebelião!
Uma multidão de pequenas criaturinhas se aglomerava fora da fábrica. Uma cacofonia de vozes gritando por férias, décimo terceiro salário, refeições decentes, roupas de segurança, convênio médico, vale transporte…
A ideia chegou com a implementação da tecnologia. Ao invés de receber cartas com uma caligrafia impossível de ser lida, receberiam emails e mensagens. Os pedidos já seguiriam para a área certa e no fim as coisas funcionariam bem mais rápido. O que o Sr. Noel não previra, é que os elfos veriam as notícias do mundo de fora. Greves, passeatas, direitos trabalhistas… não havia nada disso entre os pequenos. E então eles descobriram. E então eles quiseram tudo aquilo.
Pouco antes de setembro, começaram os discursos. Pequenos aglomerados aqui e ali. Uma paralisação ou outra. Noel até achou engraçado, mas nada que uma repressão leve não arrumasse. Contudo, a cada semana a coisa crescia. Quando novembro chegou, as fábricas já estavam paradas. E não havia o que fazer. Noel precisava dos brinquedos, e os elfos não fizeram nem metade do trabalho. Noel até pediu ajuda às outras criaturas mágicas da região, mas era tarde demais.
Com a chegada do Natal, a proporção da revolução só aumentava. As passeatas ficavam cada vez mais violentas e ninguém conseguia acalmar os pequenos elfos. Noel, com medo, apenas pegou as renas e fugiu. Sem presentes nem nada, ele fugiu para a noite.
Parou quando assumiu ser longe o bastante. Outro hemisfério, outro clima. Quem sabe os elfos nem sobrevivam no calor. Foi então que Thiago o encontrou.
-Os elfos… eles estão fazendo uma rebelião! Eles estão atrás de mim.
-Então os elfos existem de verdade?
-Ah menino… está tudo uma bagunça.
-Papai Noel… – ele não respondeu – Onde estão os presentes?
-Não tem presentes dessa vez, menino.
Um som distante entrou de mansinho na casa, interrompendo a conversa. Noel olhou pela janela. Ao horizonte, era possível ver que uma fina névoa se aproximava. As renas começavam a ficar inquietas no quintal.
-São eles! – Noel gritou assustado.
Noel tentou fugir, mas os elfos ja estavam quase na porta. As renas não obedeciam. O trenó estava falhando. Ele se virou para entrar de novo na casa, mas Thiago estava na porta. Seu olhar confuso irritava cada vez mais o bom velhinho. Sem pensar duas vezes, Noel pegou Thiago nos braços. “Os elfos não vão machucar uma criança” ele pensou.
Ele pensou errado. A furiosa onda de pequenas criaturas avançou para cima de Noel e Thiago sem um pingo de piedade.
É Natal. Mais uma vez a cidade se enche de luzes. As casas estão enfeitadas, as árvores de Natal cheias de cor, e as crianças, deitadas a espera do Papai Noel.
Lúcia ouviu sons no andar de baixo. Torcendo baixinho, ela desceu as escadas do jeito mais silencioso que podia. Para sua surpresa, lá está ele. Uma diminuta criatura, com um casaquinho vermelho e uma touquinha combinando, deixando presentes embaixo da árvore. Ela vira pra Lúcia, acena, e desaparece numa nuvem de purpurina.