
A(m/d)or
Ela foi correndo em sua direção. Ele caminhava devagar, dolorido. Suas vestes estavam sujas de terra e sangue. Em sua perna, uma crescente mancha vermelha chamava a atenção. Ele seria o exemplo. Olhou para ela com dor.
Sua amada. Aquela a quem ele estava pronto a se dedicar por toda a vida. “Não venha” diziam seus olhos “matar-te-ão a ti também se vieres.” Mas ela chacoalhou a cabeça “Não” e pulou no pescoço dele, envolvendo-o em um abraço banhado em lágrimas. Suas limpas vestes sujaram-se, mas seu sorriso se manteve puro.
“Amo-te… muito! O suficiente para morrer contigo, se necessário!”
“Quero que vivas… que sejas feliz!”
“Só serei feliz contigo, meu amor…”
Ele envolveu seus braços ao redor dela. Suas lágrimas confundiram-se. Seu choro e seus sorrisos. Havia vozes atrás. Um bando. O líder, que sentia por ela amor e por ele ódio, viu a cena. Ouviu os olhares… “Morrerei contigo” ela olhara. “Então que morra!” pensou o líder, com raiva dela. Com raiva de todos! Com raiva de si…
O primeiro tiro não foi certeiro. O segundo acertou a perna dele. Ele caiu no chão, ela apoiou-o em si. Os olhos dela encontraram os do líder. As balas haviam acabado. Ele estava com um cano. Seus olhos transbordavam de dor e havia pânico em seus lábios. O que acontecera? Por que um deles precisava morrer? Por quê? Eles não poderiam ser felizes nunca?! Ele chegou perto. O cano empunhado na mão direita. Estava na frente deles. Ele não tinha condiçoes de correr. Ela ficou ali, abraçando-o, protegendo-o. O líder levantou o cano. Baixou-o com força. Um baque surdo assustou os que vinham a procura dela. Um grito de horror logo depois. Todos pararam. O líder estava aos prantos e gritos no chão, enquanto ela ainda protegia o outro jovem. Ela levantou os olhos. Estes encontraram-se com os do líder. Ele se levantou. Pegou o cano. Não iria bater nela. Olhou-a nos olhos. Por muito tempo. Tirou seu cachecou e entregou a ela. “Faz um curativo na perna dele” disse com tristeza. Ela nunca o amaria, não depois daquele dia. Contudo, sozinho ele não viveria, não conseguiria. Então que morresse ali.
Com um movimento rápido, sem que ela pudesse impedir, o cano foi parar no abdomen daquele que antes o empunhara. O sangue quente espirrou em seu rosto, enquanto um grito saía de seus secos e tristes lábios. Ela colocou delicadamente a cabeça de seu amado no chão e correu até o líder. Seus olhos gritavam-lhe “Por quê?! Por quê?!” enquanto uma chuva de lágrimas cortava-lhe a voz.
O líder viu o quanto ela se importava. Olhou em seus olhos e agradeceu-a com um sorriso. Ela, então, abraçou-o e deitou-o no chão. Beijou-lhe a testa e retirou o cano de seu corpo. Um corpo em que já não havia vida.
Voltou ao seu amado. O cachecol fazia-lhe um interessante curativo… O mesmo que trazia a morte tomou-a para si e deu a vida. Ajudou-o a levantar-se. As pessoas que a procuravam ajudaram-nos a chegar a algum lugar onde pudessem curar-lhe as feridas. Ela, então, voltou a escura estrada onde tudo ocorrera. O corpo de líder já não estava lá. Ela tirou a flor que estava em seus cabelos e colocou ali, em cima da poça de sangue. Respirou fundo.
“Não precisavas morrer”
“Não tinha como viver… sem você”
“Encontraria alguém”
“Como você? Difícil…”
“…”
“Obrigada pela flor. É quase tão bonita como você” então o líder sorriu.
“Eu… eu me vou. Preciso ir”
“Sim, eu também. Não creio que vamos nos falar novamente”
“Não… com certeza não”
“Bom… obrigada por se preocupar comigo. Mesmo quando eu ameacei ferir você”
“Sempre me preocupei contigo, tolo.”
“Obrigado… mas agora eu vou indo. Senão vou machucar você ainda mais”
“Eu… eu entendo. Boa viagem, então… espero que vá para um bom lugar”
“Obrigado” e junto com o vento, ele se foi.
Ela voltou para as pessoas e para ele. Ele que dormia tranquilamente. Ela beijou-lhe a testa, pegou-lhe a mão e sentou-se ao seu lado.