
Dark Zone: A fonte da juventude
Ep. 0 - A Zona Escura
O auditório estava em silencio quando o famoso filosofo Jean-Paul Ludwig, um veterano nos campos da física quântica e filosofia moderna, subiu ao palco da universidade de Oxford, que estava tendo um evento para incentivar a ciência entre seus estudantes.
Jean-Paul era um homem de 58 anos e era muito respeitado na comunidade internacional, mas algumas pessoas não gostavam muito de suas técnicas não convencionais, sua presença em geral causava um certo magnetismo, graças a sua aparência excêntrica e sua forma de se expressar, após dar alguns passos no auditório, ele tomou um gole de agua e na lousa a suas costas ele desenhou um relógio e virou-se para a plateia com um pequeno sorriso:
‘O que é o tempo?’’
E aguardou em silencio, enquanto alguns estudantes falavam teorias complexas e alguns tinham dificuldades para expressa-lo de forma simples. Então ele andou até a lousa e fez um desenho de um rio
‘A melhor forma de ilustrar isso seria um rio, onde o rio seria o fluxo do tempo, agora imagine que você é uma pequena folha, que flutua nele, junto com outras pequenas folhas e outros pequenos objetos, indo rumo ao desconhecido, durante seu percurso essa pequena folha ira tocar em outras folhas, terá seu rumo desviado pela correnteza diversas vezes, terá encontrado e vistos paisagens diferentes de outras folhas e outros insetos, enfim, terá traçado um caminho completamente diferente e muitas vezes impossível de se imaginar. Mas essa folha deixa, durante seu percurso, um pequeno rastro, pequenas ondas que brincam com a superfície da agua, algumas vezes causando alterações em outras folhas, isso seria o reflexo de escolhas ou atitudes. Até que finalmente essa folha afunda ou desagua no oceano e assim chega ao fim de sua jornada, do cair da arvore até ser consumida ou afogada pelo rio. ’
Uma mão levantara na plateia, uma moça de óculos e cabelos despenteados se levantou,
Jean-Paul assentiu com a cabeça e ela abriu um pequeno livro roxo e perguntou:
-Sr. Jean-Paul, o senhor cita em seus livros que a alteração da linha do tempo causa sempre universos paralelos e isso gera Zonas Escuras, mas em nenhum dos seus livros eu encontrei uma explicação razoável para esse termo, é quase como se de certa forma isso fosse autoral!
-Qual é o seu ponto Minha querida?
-Que o senhor nunca chegou a dar uma conclusão ao termo, o que deixa uma pergunta em aberto, o que é a Zona Escura?
Ele então coçou seu queixo, com um ar de diversão e voltou a lousa
‘Imagine que nesse rio, existem seres que observam o trajeto dessas folhas e que de acordo com a sua vontade eles podem criar desvios artificiais no curso da agua, ou desviar a folha para caminhos diferentes. Colocando em outra metáfora, cada desvio cria um universo paralelo, onde abrem dois caminhos (e dois ou mais universos paralelos):
-Um onde a folha foi para a direita
– E outro onde a folha permaneceu a esquerda
– E quem sabe outro onde a folha bateu na margem e ficou ali
Como é difícil saber em qual universo estamos, chamamos isso de Zona Escura. Eu escolhi esse nome durante minhas pesquisas sobre o tempo, pois esse termo me pareceu bem adequado, pois as linhas que o tempo pode abrir e a quantidade de realidades paralelas são tantas que é como se tudo isso estivesse oculto atrás de um palco, atrás das cortinas, onde o espetáculo da vida não acontece, mas pode ser manipulado.
O curioso disso é que podemos acabar tomando escolhas diferentes e no final ter o mesmo resultado. Mas um ponto interessante é quem seriam essas criaturas? E como elas veem o tempo de forma diferente de nós?
Era uma linda manhã de inverno na cidade de Pforzheim na Alemanha, a neve cobria de forma gentil as casas, deixando um manto branco sobre a cidade. No lado mais antigo da cidade, próximo de uma pequena fileira de casinhas de tijolos e pequenos prédios retangulares, havia uma pequena igreja, ali estavam sendo feitos os últimos preparativos para a celebração do casamento.
Os convidados estavam chegando e tomando seus assentos, senhoras gordas bem vestidas com casacos de pele, pessoas com olhares entediados e toda a espécie de curiosos, madrinhas em polvorosa e aquele ansiedade de finalmente ver a noiva, Helga Kurtz, Uma mulher, pertencente a uma das famílias mais ricas da cidade, dona de um dos maiores conglomerados de empresas do país, uma jovem Loira e de corpo sedutor e um olhar misterioso, como o de um predador observando o ambiente a sua volta, sua beleza era o alvo das revistas de fofocas e a causa de desejos para muitos homens.
-Eu já te disse Angelo, você não tem escolha – dizia uma mulher enquanto arrumava a gravata.
Angelo irritado, se afastou de sua mãe e foi até o espelho arrumar a sua gravata, ele estava visivelmente estressado e seus olhos havia uma infelicidade enorme, ele se virou e disse de forma ríspida:
– É um absurdo o que vocês estão fazendo!
– Então o que você prefere meu filho? Que a nossa família venda tudo? Que passamos a viver como… como… pobres? – Disse enquanto começava a chorar – É isso que você quer? Ver a sua mãe pedindo dinheiro na rua?
– Não, não é, mas também não entendo por que eu tenho que ser o culpado pelas dividas deles!
– Seu pai e seu avô foram estupidos em jogar o dinheiro fora naquela maldita empresa falida, diziam que iam ajudar seus amigos, mas eu simplesmente me recuso a isso não vou viver uma vida assim e você como meu filho vai fazer o que eu mando.
– Eu não amo aquela mulher… EU NEM A CONHEÇO! E eu não tenho mais 15 anos pra você mandar em mim!
– E você acha que eu amei seu pai algum dia Angelo? – Disse enquanto se aproximava e arrumava o terno dele – Não seja estupido, eu estava pobre, carregando você na minha barriga quando conheci o idiota do seu pai, eu fiz isso para te sustentar, te dar um futuro e uma vida decente, agora estou te pedindo isso em troca.
-Mas…
– Shh, sem mas. Agora vai lá e se case com aquela mulher, ela é nossa passagem para voltar a ter uma vida de luxo e uma mesa farta!
A música tocava estrondosa, a noiva estava entrando, as cabeças curiosas voltam-se para a entrada triunfal da mulher mais poderosa da cidade, vestida com um belíssimo vestido vermelho, decorado com flores e pequenos cristais, seu véu tinha uma coroa de flores douradas, calmamente ela andou até o altar, sorrindo enquanto carregava o exagerado buque de flores, para Angelo, cada passo era como estar próximo de sua execução, de estar aceitando deixar sua liberdade de lado.
Então ela parou a sua frente, seu pai a deixou, cumprimentou Angelo e então foi ao seu assento, o padre realizou a missa, de forma impecável, as madrinhas e no mínimo meia dúzia de convidados estavam chorando, a igreja inteira ficou silenciosa quando finalmente foi feita a pergunta:
– Sra. Helga Kurtz, Você aceita Angelo Dahl como seu legitimo marido, e promete ser-lhe fiel, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da vossa vida?
– Sim – Disse levemente entediada
-Sr. Angelo Dahl, Você aceita a Sra. Helga Kurtz como sua legitima esposa?
Angelo hesitou por alguns instantes, seus olhos encontraram os de sua mãe, que expressavam uma fúria pela demora.
-S… Sim
Ep. II - Uma vida ao vento
Jean-Paul retirou seus óculos para limpa-los, enquanto dava uma breve pausa, o auditório parecia apreensivo para ouvir a continuação de sua explicação.
“Como dizia, quem seriam essas criaturas?
Nós percebemos o tempo através de relógios, calendários, dias e também através do envelhecimento, para nós o tempo é algo constante e imutável, sempre para frente. A única exceção ao tempo, segundo Einstein, a chamada teoria da relatividade, diz que basicamente eu, vocês e qualquer um nesse planeta, estaria em um trem, andando sempre para frente a uma velocidade fixa, mas a parte interessante é que se, digamos, ao invés de usarmos o trem normal do tempo, usássemos um outro paralelo, que não segue a mesma rota e andasse muito mais rápido que o nosso trem, seria possível dizer que o tempo para os dois trens já não seria mais o mesmo. Fascinante não é mesmo?
Einstein viu em suas pesquisas que o tempo é relativo a quem o observa, sendo afetado por velocidade e gravidade. Isso poderia, num futuro nos dar viagens ao tempo!
Mas, se o tempo é relativo, seria possível se destacar da linha que estamos presos?
Seria possível observar o passado, o futuro ou qualquer ano que quiséssemos?
Bom segundo algumas civilizações, existiam seres que tinham essa capacidade, alguns os chamavam de deuses, outros apenas de seres. Para os gregos haviam um grupo de deuses com essa capacidade, as Moirai, que eram isoladas do tempo e espaço, as três irmãs que cuidavam do aspecto da vida, Clotho, tecia o fio da vida para cada indivíduo, Lachesis media seu comprimento, dando seu tempo de vida e por fim Atropos cortava esse fio.
Haviam outros deuses na mitologia grega que também controlavam o tempo, como Chronos e Aion. Heh ou Huh para os egípcios, Janus para os Romanos, E a lista prossegue.
Essas civilizações, apesar de serem isoladas, geograficamente as vezes por diferença de eras, todas tinham uma concepção primitiva do tempo. Mas existe algo em comum no padrão de seus deuses e entidades, elas observam o tempo, não sendo afetadas pelo mesmo.
E, nas minhas pesquisas recentes, descobrimos resquícios de uma civilização antiga, próxima a escavações de fosseis, que vão contra todas as regras da evolução. Uma civilização que era tão avançada para a época que sua tecnologia seria considerada magia.”
Naquele mesmo dia, após a celebração exaustiva do casamento de Ângelo e Helga.
Ambos estavam no saguão do aeroporto, aguardando seu jatinho particular estar pronto para decolagem. Sentados na sala vip, Helga estava com a mesma expressão de sempre, de puro tédio e aborrecimento e se entretinha mexendo em seu Game Boy Amarelo, Ângelo por outro lado estava apreensivo e incomodado com o silencio e estava encarando Helga a alguns minutos, então ele a chamou algumas vezes, o que ela fez questão de ignorar, até que ele não se conteve e arrancou de suas mãos o portátil. Ela bufou aborrecida e levemente irritada e olhou para ele.
– O quê?
– Bom, agora que somos casados e de certa forma não nos conhecemos, que tal um pouco de atenção?
Helga estava se preparando para dar uma resposta quando foi interrompida pelos autofalantes que diziam que o jatinho estava pronto, ambos se encararam em silencio e ela estendeu a mão esperando que ele devolvesse seu portátil. Então eles andaram em silencio pelo corredor, ao entrar na aeronave Ele ficou impressionado com o seu interior, haviam televisores de tela plana com som estéreo, em um dos cantos havia um impressionante aparelho de fitas cassetes com o revolucionário sistema de Discos Compactos, ou CDs. Havia uma iluminação fraca e assim que entraram foram abordados pelas aeromoças, Helga sentou em uma das poltronas ao fundo, ao seu lado havia um homem de terno. Ele era um homem de meia idade, com olheiras e cabelos bem arrumados, jogados para trás num mullet e um pequeno bigode. Ao ver Ângelo ele se levantou e foi até ele.
– Ah Finalmente estou conhecendo o senhor – Disse enquanto dava um aperto de mão
– hmm… e quem é você?
– Eu sou o Dr. Gregor, o Advogado de Helga.
Ângelo parou por um instante e olhava de Helga para Gregor, ele estava confuso. Gregor colocou sua mão em seu ombro e gentilmente o empurrou até seu assento e antes de sentar puxou uma placa da parede que virou uma elegante mesinha de jantar.
– Helga… Querida, por que temos um advogado a bordo, na nossa viagem de Núpcias?
Ela olhou para ele, tomou um gole de seu whisky e calmamente começou a falar
– Primeiro, S.r. Ângelo, nunca me chame de querida, a não ser que seja absolutamente necessário ou estivermos em público e da próxima vez que você me tocar sem a minha autorização eu pedirei divórcio.
– Queri… Helga, eu não estou entendo.
– Deixe que eu lhe explique – Disse Dr. Gregor enquanto tirava uma pilha de folhas de sua pasta debaixo de seu banco.
– Como você deve saber, esse casamento é apenas fachada para uma junção corporativa e é um passo interessante e novo para as Industrias Kurtz, nesse contrato que eu estou lhe entregando o senhor ira entender melhor todas regras e toda a burocracia. Assim como o senhor irá assinar esse contrato, também terá de seguir todas as regras e a agenda pública da Sra. Helga. Estando de acordo, a sua Família, composta de você, sua mãe e seu pai, irão receber 8,02% dos dividendos todos os meses enquanto você manter o estado civil Casado. E sinto lhe informar, mas o senhor também terá de descer do avião. – Disse enquanto olhava para Helga – Ela não quer a sua presença no momento.
– E para onde eu vou?
– Neste momento o senhor será escoltado para um hospital, onde iremos discutir os termos de sua generosa doação de material genético para assegurar Herdeiros a família Kurtz.
– Material genético?
– Sêmen senhor Ângelo. Helga só concordou em se casar com você, pois o seu marido real não pode ter filhos, devido a uma devastadora e devo adicionar triste condição de saúde. Segundo as análises sociais e médicas o senhor é o mais próximo de dar os filhos com o máximo de potencial possível, tanto mentais quanto corporais.
– Então eu basicamente serei um marido de vitrine?
– Exatamente, que bom que o senhor está entendendo.
16 Anos depois
Brenda Kurtz estava adormecida no banco de trás do carro, ela ainda usava seu caríssimo vestido Prada e uma pequena coroa de pedras brilhantes. Helga e Gregor, entravam com o carro no pátio de sua casa, uma casa enorme, com suas paredes brancas e janelas gigantes, realmente era o estilo imponente da família. Um estilo que praticamente gritava para quem estivesse por perto, “Somos Podres de ricos, morra de inveja”. Gregor estava manobrando o carro para estaciona-lo quando ele freou abruptamente, na frente do carro, estava parado Ângelo, ensopado pela chuva que caia.
– Ai meu deus – Bufou Helga
– Calma Querida, eu irei cuidar desse idiota
– Deveria era atropela-lo, isso sim!
Gregor saiu do carro, enquanto Helga levava Brenda debaixo de um guarda-chuva para dentro da casa, Ângelo tentou correr na direção de Helga, mas Gregor lhe deu um soco que lhe fez cair no chão. Arfando ele tentou gritar
– Brenda! Brenda! Sou eu… Seu pai!
Brenda ainda meio sonolenta tentava entender o que estava acontecendo, ela nunca havia visto aquele homem em sua vida. Ela se virou e abraçou sua mãe um pouco assustada.
– Quem é esse homem mamãe?
– Não é ninguém minha filha, venha – E olhou para Gregor – Querido, por favor de um jeito nisso, sim?
E subiu apressadamente as escadas, enquanto Ângelo tentava se soltar de Gregor, que o segurava, Ele então conseguiu se soltar de Gregor que caiu no chão segurando a jaqueta ensopada que Ângelo estava usando e correu atrás de Helga, subiu os degraus e alcançou as duas quando estavam quase na porta. Brenda vendo aquele homem estranho deu um grito e correu pra dentro da casa, Helga enfurecida andou até ele:
– VOCÊ ESTÁ LOUCO?
– Não, Não estou, mas acho que tenho o direito de ver minha filha!
– ELA NÃO É SUA FILHA!
– Ela é parte de mim ou você esqueceu que eu doei o material genético pra você, “querida”.
– Ângelo, você concordou com tudo quando assinou o contrato, você sabia disso.
– QUINZE ANOS HELGA, Quinze malditos anos que eu soube que ela nasceu e você nunca deixou eu vê-la, sequer ligar pra ela. Eu sou o pai dela
Gregor havia chegado no topo dos degraus, sua testa tinha um corte terrível devido a sua queda no asfalto, ele jogou a jaqueta nos pés de Ângelo e andou em sua direção, agarrando ele e o prendendo contra a parede
– Escute aqui seu caipira de merda, ela não é sua filha, ela é minha filha, você não tem o direito de sequer vê-la e muito menos de aparecer na nossa casa, a não ser que você quer que eu chame a polícia você vai embora agora.
– Não! Eu me recuso, eu quero ver a minha filha.
Helga estava chorando de raiva quando deu um tapa no rosto de Ângelo e disse
– Chega, eu quero divórcio, não aguento mais as suas crises, isso é um negócio seu imbecil, não um reality show barato. Você nunca mais vai ter um centavo meu e se a minha filha ficar traumatizada por isso – ela respirou fundo – você é um homem morto.
O silencio era tão grande, que era possível ouvir o barulho das gotas caindo no chão, Ângelo não expressava nenhuma reação, ele empurrou Gregor, pegou a sua jaqueta e disse com a voz meio tremula
– Você é um monstro Helga. – E virou de costas – A propósito, Feliz bodas de safira
E com isso jogou o anel de casamento que ele usava no chão e desceu os degraus, Gregor e Helga entraram em sua casa.
33 Anos depois
Ângelo observava intrigado um pequeno cogumelo, que brilhava em roxo, grudado nas cascas das arvores. Ele havia feito uma longa viagem e estava entediado e ansioso ao mesmo tempo, as lendas que ele ouvira da floresta negra eram verdadeiras, suas arvores formavam um teto de folhas densas e escuras, deixando a lua ser vista como se fossem pequenos fragmentos de prata no céu. Haviam lendas de que nessa região de que existia uma seita capaz de alterar a vida, trazer transformações incríveis. Ele estava pesquisando sobre esse grupo a alguns anos, relatos na internet, vídeos caseiros de fenômenos, lendas urbanas, tudo indicava que essa seita era real.
Ele havia encontrado o começo de uma trilha com cogumelos fluorescentes e alguns esporos que pairavam no ar, deixando o ar pontilhado de luz amarela e roxa. Ângelo continuava maravilhado com essas plantas, distraído com a sua beleza e aparência única. Apesar de certa dificuldade, pois seu corpo já estava velho, seus joelhos não andavam mais da mesma maneira como de quando ele jovem.
– Olá Ângelo, estávamos a sua espera.
Sua distração foi interrompida por uma forma em cima de uma rocha, era uma figura que confundia os olhos, pois emitia uma aura brilhante de tom roxo e Ângelo jurava que podia ver estrelas permeando nessa forma, ele sentia que aquele ser era pacifico apesar de sentir que seu olhar podia ver dentro dele, todos os seus medos, anseios e sonhos. Então ele tomou coragem e disse:
– Quem é você? Você é a Seita do olho de prata?
A figura, que tomou uma forma feminina, ainda sim brilhante, sorriu levemente e flutuou até o chão, próximo dele
– Minha criatura, nós não fazemos parte de uma seita, nós somos quem observa e tece sua vida, observamos silenciosas suas decisões e apreensivamente vemos os caminhos que você toma, como uma mãe que vê seu filho começar a andar, a tomar suas decisões e sofrer, mas não podemos lhe guiar, apenas observamos. Meu nome é Clothos. E eu vejo o sofrimento em seu espirito, conte-me, por que você nos procura minha criatura?
– Eu me arrependo de várias decisões a atitudes que tomei em minha vida. E eu ouvi histórias de que vocês podem refazer a minha vida!
– Interessante, mas nós não refazemos a vida, nos apenas damos outro ponto de vista, uma segunda chance se assim quiser chamar – disse enquanto flutuava ao redor de Ângelo – Agora me diga o que você procura?
– Eu procuro… o Amor, amor que me foi negado por uma troca de interesses, que me foi negado pela minha… – Ângelo começou a chorar enquanto se ajoelhava – Covardia…
Clothos o observava, maravilhada com a explosão emocional, ela se ajoelhou ao lado dele e colocou as mãos em seu rosto, limpando suas lagrimas.
– Amor é um sentimento mais belo e também o mais destrutivo de vocês, algo que não sentimos ou compreendemos, podemos viver várias eternidades, mas ainda sim jamais vamos sentir amor. Vocês estão vivos e possuem um tempo finito e sabem o que é amar, ser amado, mas para amar é preciso coragem. – E o ajudou a levantar – É preciso estar exposto, ter seu coração aberto aos perigos de ser dilacerado por más intenções e mentiras e você sabe que falhou nisso, por medo, por ganancia. Ela se afastou dele e flutuou de volta a pedra
– Me diga, o que você quer?
– Eu quero começar de novo minha vida, quero uma outra chance para encontrar o amor.
– Você me mostrou sinceridade e uma genuína vontade de mudar seu destino. Por isso irei lhe permitir ter uma segunda chance, porém isso terá um custo.
– Qual custo?
– Tudo o que você conquistou na sua vida, será tomado de ti, seu futuro será apagado e você nunca poderá ter outra chance. Seu tempo devolvido será mais curto, mas será novo. Você aceita entrar na Zona Negra?
– Eu aceito.
– Muito bem.
Clothos se aproximou dele e o abraçou, sua forma começou a envolve-lo até absorve-lo por completo, O corpo de Ângelo voava por um túnel escuro, com algumas linhas neon, brilhando e ondulando, as paredes do túnel pareciam ser feitas de piche e tinham pequenas colunas ligadas enquanto tremiam e giravam em volta dele. Passados alguns minutos nesse túnel, tudo se apagou.
Ep. III - O Casamento
-Sr. Ângelo Dahl, você aceita a Sra. Helga Kurtz como sua legitima esposa?
Ângelo hesitou por alguns instantes, seus olhos encontraram os de sua mãe, que expressavam uma fúria pela demora. Ele havia voltado no dia do casamento. Ele olhou para Helga, ela estava jovem e com a mesma expressão entediada daquele dia, ele olhou para baixo, estava magro, suas mãos estavam jovens novamente. Provavelmente ele deve ter demorado algum tempo, perdido em seu retrocesso ao tempo. Pois o padre repetiu novamente a pergunta
– S.r. Ângelo? Qual é a sua resposta?
– A minha resposta… – E olhou para Helga e virou de costas e olhou para a sua mãe –
Não