
Escuridão dum Sol de meio-dia
Seu indicador esquerdo começou a ter espasmos.
“Ah! Hahaha! Está fria!”
Estava sentado na cama, pouco mais alta que o chão. Pouco mais macia.
“Ah… Isso é bom! Está tão calor!”
Seus braços cruzados apoiados às pernas. E seu indicador esquerdo ali. Espasmando.
“Ah… Tão bom! Tão bom!”
Ele segurou seu dedo com a mão direita. Respirou fundo. Fechou os olhos.
“Ah… Água fria…!”
Precisava se acalmar. Estava nervoso demais. Aquilo tudo era muito para ele.
“Ah! O que você está fazendo aqui?!”
Ele levantou-se. Aquilo tudo era muito para ele. Precisava sair dali. Agora!
“Ah! Não! Vá embora! Por favor…!”
Não sabia o que estava havendo. Tudo estava silencioso demais. Não havia um pássaro cantando.
“Não, – choro – por favor, não…!”
Não havia uma folha se mexendo. Alguém andando na rua. Havia a escuridão dum Sol de meio-dia.
-Choro
Ele deveria ir ao trabalho. Entrou no chuveiro. Saiu. A água fria ainda gotejava de seus cabelos.
-Choro
Abriu o portão de sua casa. Nada lhe chamava particularmente a atenção. Seu cão não tentou fugir.
-Soluços
Sua mente estava clara, o céu cheio de nuvens sombrias. Provavelmente faria um lindo dia.
-Soluços
Bocejou. Começou a andar. Seu dedo começou a ter espasmos novamente. Uma mente perturbada.
“Não… por favor… chega… Ah!”
Sentiu sua faca no bolso. O canivete no outro. Havia uma adaga, ricamente trabalhada, presa em sua panturrilha.
“Não! Ah! Isso dói! Por favor! Ah!”
Azul. A cor era azul. Um azul profundo e nauseante. O azul duma mente perturbada por sons e imagens.
-Gritos
Azul. A cor lhe transmitia paz. Assim como o preto e o roxo. Serenos como a mais pura luz do dia.
-Gritos
Um raio cortou o céu. Um trovão se fez ouvir. Ele olhou para os céus; abriu um sorriso.
-Gritos fracos e abafados
As gotas de chuva, esparsamente, caíram por sua pele nua. Aos poucos, sua roupa estaria encharcada.
-Gemidos de dor
O vento era forte e impetuoso; finalmente as folhas se faziam ouvir. Ele sorriu.
-Silêncio
Ele ouviu. Finalmente a majestosa natureza se fazia ouvir. Ele estava feliz. Sentou-se ao chão.
-Silêncio
Fechou os olhos. Seu dedo tendo espasmos. O vento lhe soprando as roupas. A chuva lhe molhando a face.
-Morte
Sim. O dia estava perfeito.