
Estátuas
Havia uma sombra. Pareciam duas pessoas, abraçadas. Mas quando eu cheguei mais perto… há muito já não eram pessoas. Uma estátua abraçando um corpo, que parecia respirar fragilmente. Mas quando cheguei perto, e tirei os longos cabelos de seu rosto, havia apenas o eterno sorriso dos mortos.
O som de flechas rasgavam o ar. Mais uma vez, o templo era atacado por forças externas. Mas pela primeira vez o templo parecia cair. Uma voz gritava pelo líder do local, deixando um rastro de sangue. Há muito estava machucada, mas seu corpo se recusava a ceder. Seus gritos aos poucos se tornando sussurros. Criaturas de outro mundo atacavam o templo, criaturas que ela não via e nunca veria. Naquele momento, ela agradecia aos deuses por ter nascido cega. Ela sentia as flechas zunindo, mas nada poderia pará-la. Se ela pudesse acordá-lo… ele poderia fazer alguma coisa.
Ao entrar no cômodo do líder, ele estava sentado em seu trono. Havia dor em seus olhos, mas ela nunca poderia ter visto. Ela gritou seu nome uma última vez, e ele respondeu. “Venha” a voz ressonava em sua mente. Ela nunca ouvira sua voz antes, mas sabia a quem pertencia. A voz dele era a voz dos deuses. E havia dor em sua voz. E naquele momento ela soube que os deuses haviam abandonado o templo. Uma nova era de monstros chegava, e flecha em seu peito… a voz em sua mente… nada mais eram que sinais.
Ela entrou em pânico. Ela conhecia as lendas, as profecias. Ela falara todas elas! Mas agora ela tinha medo… ninguém quer morrer. Então, tropeçando, ela correu aos braços do líder, aquele que abraçara sua mente tantas vezes durante as visões e os pesadelos. Ao chegar em seus braços, ela ouviu a porta se abrindo. Ele também ouviu. A porta se abrindo e o som das serpentes. E ele olhou. Foi seu erro. Pode sentir seu corpo endurecendo a medida que a jovem caia em seus braços. Com suas últimas forças, ele abraçou a moça em seu colo. Ele pode sentir sua vida se esvaindo aos poucos. Era tarde demais. Ele deveria ter lutado. Talvez… não. A criatura a sua frente o olhava com um sorriso maldoso nos lábios. Ele soube. Assim como a jovem em seus braços. Seu tempo havia acabado. E ele seria a prova eterna de sua falha. Seu coração já não batia e sua mente se desfez. Ele fechou os olhos para o eterno sono sem sonhos, e isso lhe deu paz. Ela finalmente dormiria bem.