
Exterminium: A caçada espacial
Cap. I - Ecos no Vácuo
Iann estava gritando pelo comunicador, furioso.
– Brunno, A PORTA 503C, PRECISO DELA ABERTA AGORA.
Brunno olhou de relance para o mapa flutuando na tela, tomou um gole de seu copo que estava flutuando e preguiçosamente tocou no pequeno mapa e após uma série de menus a porta foi aberta.
– Obrigado – retornou a voz no comunicador – Preciso das luzes agora
As luzes de emergência do corredor se acenderam, inundando de um laranja forte. Agora com a luz era possível ver parte dos estragos, uma das portas estava entortada no chão, tamanha a violência que foi arrancada, parte do piso estava trincada e o batente quebrado. Dobrando a esquerda, indo em sentido ao compartimento de carga especial, havia um rastro de sangue.
– Adara? – Chamou no rádio – Adara, onde você está?
– Estou no corredor social, no segundo andar Capitão
– Certo – E apoiou-se na esquina do corredor – Mantenha-me informado
– Positivo – Após uma breve pausa ela continuou – Você também Iann…
O corredor indo para a esquerda estava sujo de sangue, as lâmpadas do teto estavam quebradas, com toda certeza o que aconteceu ali foi algo rápido e definitivamente violento. Iann tocou em um botão no seu comunicador e o silenciou. Ao fundo um barulho o incomodava, era como se alguma coisa estivesse sendo mastigada, seguindo as pegadas vermelhas ele parou um pouco antes da porta que se abria para o compartimento de carga da nave.
No chão, havia uma mão humana, decepada de seu antigo dono com brutalidade excessiva. Aquilo embrulhou o estômago de Iann, ele já havia visto muitas coisas assim, mas fazia muito tempo que não presenciava tais cenas. Tateando os controles da porta na parede, ele encontrou o botão e com a ponta dos dedos o ativou. Com um rangido de protesto a porta abriu lentamente. Iann não conseguia acreditar no que estava vendo no hall do compartimento.
Um corpo retorcido e rasgado em várias partes jazia no chão, partes dos seus membros já não estavam mais lá, pisando em seu peito uma criatura um pouco mais alta que uma criança, sua pele era coberta de escamas castanhas e mostarda, definitivamente era um lagarto, mas um lagarto muito grande e esguio. Sua boca rasgava o que foi o rosto de um dos tripulantes, sua fileira de dentes mordiam nacos enormes da bochecha e todo seu focinho estava pingando sangue.
Então, numa breve pausa a criatura olhou para ele, seus olhos eram malignos, de um roxo elétrico intenso, sua pupila era muito parecida com a de um felino, uma fina linha vertical. Iann sacou sua arma do coldre e mirou na criatura enquanto se afastava da porta, com a outra mão ele procurou o botão para fechar a porta.
Como um raio a criatura saltou em sua direção, sua cabeça ficou presa na porta, silvando furioso e com suas patas traseiras começava a arranhar o metal, a luz alaranjada de emergência o deixava ainda mais assustador. Iann se afastou e andando de costas, mirando a criatura chamou no comunicador:
– O que é isso?
Apenas um barulho de estática em retorno….
– Alou? Alguém na escuta?
Atrás dele uma porta de emergência se fechou, passados alguns instantes a porta onde a criatura estava presa se abriu.
Ameaçadoramente ela se agachou, silvando enquanto olhava para sua nova presa, Iann atirou duas vezes em sua direção, um dos tiros foi certeiro e acertou em sua lombar, fazendo com que ela pulasse para o lado. O comunicador silenciou-se da estática e ouviu-se uma voz:
– Sinto muito Capitão, nada pessoal!
E ao seu lado uma outra porta se abriu, de dentro dela saíram mais três criaturas iguais a primeira. Um após o outro saltaram no capitão. Do outro lado da porta que lacrou o corredor, só se ouviam os gritos, tiros e os silvos.
Até que tudo se silenciou.
Cap. II - Carga Preciosa
Na sala de controle o sinal do Capitão tornou-se uma linha reta, seus sinais vitais estavam em zero. O silêncio era o suficiente para se ouvir apenas a estática. Então Adara incrédula quebrou o silêncio:
— Oswald, estamos agora em estado de alerta. — Se acalmou o máximo que pode antes de prosseguir — Temos animais assassinos soltos a bordo.
— Certo…, mas e os passageiros?
— Eles não são nossa prioridade. Vocês, a tripulação, são. — Ela respirou fundo, claramente estava dividida entre chorar e tentar conter a emergência — Com o capitão morto… eu estou assumindo temporariamente, ao menos até resolvermos isto.
Oswald acenou positivamente de sua cadeira e começou a digitar uma série de protocolos em seu computador. Em instantes a nave como todo passou a emitir uma voz robótica de alerta. Yara, levantou de sua cadeira e puxou um retângulo de vidro e foi até a nova capitã.
— Adara, eu tenho uma sugestão. — E apontou para o retângulo que agora mostrava um pequeno mapa da nave.
Estelaris II era uma pequena nave de transporte, seu formato quase retangular facilitava muito sua navegação interna, onde basicamente nos seus quatro andares, a parte traseira inteira era destinada a levar carga, isto já dava metade da nave. A outra metade, era destinada as áreas de necessárias para uma pessoa sequer poder habitar no espaço. Yara apontou para a metade habitacional:
— Sabemos que cada andar é destinado a um setor, grosseiramente falando. Desta forma podemos impedir que eles saiam pela nave.
— Eu conheço a nossa nave Yara… Onde você que chegar?
— Bom, Sabemos que eles não estão nos dormitórios e nem nas áreas comuns e obviamente aqui também. Ou seja do primeiro ao terceiro andar temos certeza que eles não estão soltos por aí.
— Certo.
— Isso implica que há uma possibilidade de que eles estejam soltos no quarto, a engenharia e motores… e bem — com um pequeno gesto ela aumentou o mapa do quarto andar, um retângulo alaranjado que se dividia em três partes. — Brunno está no mudo, mas vivo. Acredito que no momento nossa prioridade seja lacrar o quarto andar e ter certeza que os motores não sejam danificados de qualquer maneira.
— Eu concordo, a ultima coisa que eu gostaria era ficar a deriva no espaço com lagartixas homicidas.
— Eles… são raptors capitã – Interrompeu a Sra. Trigold entrando na sala.
As histórias quanto a enorme Sra. Trigold eram reais, ela não somente era corpulenta, mas ao longo dos anos ela alterou seu corpo de tal maneira que ela era tão larga quanto dois homens adultos. “Vaca” Pensou Adara de imediato.
— Volte ao seu dormitório Trigold. — Resmungou a capitã sem olhar para ela — Estamos em uma situação de emergência aqui.
— Sim, por deus eu não pude deixar de reparar com essa voz repetindo a todo momento isto. — E sentou-se na cadeira do capitão — Ah… bem melhor assim… Confortável não acha?
O rosto de Adara estava lívido, muito provável já haviam se passados seis formas diferentes onde ela era morta. Violentamente. Oswald se aproximou dela e tocou gentilmente seu ombro para tentar acalmá-la. Respirando profundamente e numa voz muito contida ela respondeu:
— Yara, por favor desligue o sistema de aviso. — E virou-se para Trigold — E o que você veio fazer aqui?
— Oh, não sou bem-vinda aqui? — Com uma falsa cara tristonha — Triste. Mas pelo que eu entendi meus bebês estão a solta, graças a sua incompetência. — E levantou-se e andou até Adara — Eu vim ter certeza que vocês iriam cuidar deles da melhor maneira possível.
— Os seus “Bebês”, acabaram de matar um homem. — Protestou Oswald.
— Ooh — debochou Trigold — Certamente um infortúnio.
— Trigold. Nós vamos conter isto, agora só volte para seu quarto, nós temos um plano aqui e…
— Um plano? — Riu-se — Querida certamente iriamos seguir o seu plano — e se aproximou dela e deslizou seus dedos no colarinho de sua roupa — Não se esqueça que graças a mim e a minha companhia é que este lixo que você chama de transporte está aqui. Certamente não foi o seu dinheiro que nos trouxe até aqui. Então eu acho que posso dizer qual será o plano.
Aquilo foi a gota final para a capitã. Num surto de raiva ela agarrou a mão da passageira e a torceu de forma que tudo que ela pode fazer em resposta foi cair no chão.
— Esta é a minha nave, sendo um lixo ou não, você está nela. — E virou-se para Oswald — Leve-a para seu aposento e se ela tentar qualquer coisa a algeme. E quanto a madame, se você não estiver contente, eu certamente ficaria honrada de pessoalmente lhe jogar para fora da nave.